Em conversas com amigos e familiares é muito comum que escutemos uma série de opiniões que as pessoas têm a respeito da psicoterapia. Essas opiniões são formadas a partir do imaginário social sobre o tema, da representação em filmes, novelas e seriados, de relatos de terceiros e também das próprias experiências pessoais de cada indivíduo.
Irei elencar, aqui, apenas algumas das concepções errôneas ou mitos que vejo surgirem com mais frequência por aí. Espero que ao final desse texto você possa ter uma ideia um pouco melhor sobre o que de fato é psicoterapia.
Mito Número 1: “A Psicoterapia é destinada apenas a pessoas com doenças mentais graves”.
Esse mito deriva de uma visão muito restritiva em relação à saúde mental. Ele pressupõe, primeiramente, que a saúde mental seria apenas a ausência de doença e também de que o adoecimento mental apenas se manifesta através de quadros graves. Transtornos mentais graves devem ser tratados com uma estratégia mais ampla que envolve tratamento medicamentoso, psicoterápico e social. A psicoterapia é útil para uma ampla gama de desafios emocionais e de vida, desde problemas de relacionamento até questões de autoestima e desenvolvimento pessoal. Não é exclusiva para condições graves; pode ser benéfica para qualquer pessoa que queira melhorar sua saúde mental e qualidade de vida.
Mito Número 2: “O psicoterapeuta não fala em sessão”.
Esse é outro mito muito comum que ouvimos por aí. É verdade que existem diferentes abordagens em psicoterapia e que elas vão diferir nos níveis de atividade e diretividade por parte do terapeuta. No entanto, nenhum terapeuta em qualquer abordagem deve deixá-lo se sentindo perdido e desamparado em uma sessão de psicoterapia. Em minha abordagem, prezo por um alto nível de presença terapêutica, acompanhando, reagindo e, por vezes, guiando-o através dos caminhos que aprendi levarem à uma vida de maior equilíbrio emocional.
Mito Número 3: “A psicoterapia é como conversar com um amigo”
Talvez, implícito nesse mito, esteja também a ideia de que só precisa de terapia quem não tem bons amigos. Ainda que existam alguns paralelos possíveis entre relações de amizade e uma relação terapêutica (por exemplo, em ambas as relações, é esperado que você receba algum grau de suporte emocional), há diferenças fundamentais entre essas duas figuras, a do terapeuta e a do amigo. Um amigo irá lhe ouvir, nem sempre ser empático (lembre-se: empatia é se colocar no lugar do outro, não falar o que você faria no lugar do outro) e provavelmente lhe dará algum conselho sobre o que ele acredita que você deva fazer. O terapeuta também irá lhe ouvir, mas esse, sim, deve ser empático, no sentido de se colocar verdadeiramente no seu lugar e não julgá-lo por seus sentimentos, pensamentos e ações. Além disso, o terapeuta possui ferramentas para ajudá-lo a processar profundamente suas emoções. Dessa forma, um terapeuta não irá lhe dizer o que ele acha que você deve fazer, pois esse caminho é seu e talvez seja até arrogante que alguém ache que sabe melhor do que você o que vai te fazer bem, não é mesmo? Portanto, a psicoterapia é um processo de aprofundamento emocional que lhe possibilita tomar as suas próprias decisões em direção a uma vida mais plena e equilibrada.
Mito número 4: “Fazer terapia é muito caro”
Quando falamos sobre a psicoterapia ser cara, acho que podemos pensar em pelo menos dois cenários diferentes. No primeiro, de fato, a conta não fecha: se o custo com psicoterapia representar metade do seu salário, por exemplo, seria difícil argumentar que psicoterapia não é um serviço muito caro. Talvez você não consiga pagar o seu aluguel, ou a escola do seu filho. Isso são prioridades para você e não tem como ser diferente. No entanto, acredito que, quando as pessoas falam isso, muitas vezes se referem a uma outra situação. Referem-se a um contexto onde não seria necessário abrir mão de questões essenciais, mas que talvez fazer psicoterapia, para elas, demandasse alguma organização e mesmo algumas renúncias. A questão, aqui, seria de se perguntar: o que é prioridade para mim? Não existe uma resposta certa para essa questão e nem há julgamentos de valor: você pode preferir comprar roupas, itens para sua casa, frequentar restaurantes caros, viajar com frequência, entre outras preferências que você possa ter. Agora, nesse caso, trata-se de uma questão claramente de prioridade. E apenas você vai poder responder o quanto vale a sua saúde mental.